quarta-feira, 4 de abril de 2012

Não basta ser bom, importa ser misericordioso - Leonardo Boff

A Semana Santa nos convida a pensar sobre o sentido maior de nossas vidas à luz daquele que foi radicalmente humano e por isso também divino. Ele não se propôs fundar uma nova religião. Nem pretendeu que as pessoas fossem mais religiosas. Mas o que de fato quis, foi que todos, com a religião ou sem ela, fossem mais humanos, solidários, fraternos, justos, amorosos e misericordiosos.

Para Jesus não bastava ser bom. Tinha que ser misericordioso. Só assim seria plenamente humano. O Deus que anunciava era um Pai bom mas principalmente era um Pai misericordioso. Sentir a dor do outro, abaixar-se até o seu nível e compreender sua vulnerabilidade sem logo julgá-la, constituía a originalidade de sua mensagem.

Ela é atualíssima. Num mundo cruel e sem piedade, onde nações são arrasadas pela voracidade do capital que as mergulha em dívidas, como se faz urgente e necessária esta virtude escandalosa e tão radicalmente humana que é a misericórdia. Precisamos trazer de volta a figura do Pai bom mas fundamentalmente misericordioso.

Se há um eclipse da figura do pai na sociedade moderna, há também uma saudade por sua volta, já testemunhada há séculos por Telêmaco, filho de Ulisses, na Odisséia de Homero: “Se aquilo que os mortais mais desejam, pudesse ser conseguido num abrir e fechar de olhos, a primeira coisa que eu quereria, seria a volta do pai”. Curiosamente esta volta é augurada pelo Cristianismo, numa página memorável de São Lucas ao falar da volta do pai ao filho pródigo.

Para compreender esta volta do pai, importa situar a parábola no contexto da prática e da proposta de Jesus. É um dado historicamente assegurado que Jesus circulava entre pessoas de má companhia e que comia com elas. Comer era considerado, para os critérios do tempo, um sinal de amizade. Naturalmente provocava escândalo entre as pessoas piedosas que passavam a criticá-lo.

Por que Jesus assumia um comportamento assim ambíguo? Responder a isso é identificar sua experiência espiritual e sua forma de entender Deus. Jesus experimentou um Deus que é Pai de infinita bondade e que, por isso, assumiu características de mãe: acolhe a todos, a bons e a maus e revela uma misericórdia ilimitada. A forma como Jesus expressa a misericórdia de Deus é ser ele mesmo misericordioso, coerente com o que aconselhava aos outros: “sede misericordiosos como vosso Pai é misericordioso”. Em razão disso, se misturava às pessoas de má fama para que, em contacto com ele, pudessem sentir a misericórdia divina.

Para facilitar a compreensão dos piedosos que se escandalizavam, narra três parábolas: a da moeda perdida, a da ovelha desgarrada e a mais conhecida de todas, a do filho pródigo. Cada parábola termina com estas palavras consoladoras: “alegrai-vos comigo porque encontrei a ovelha desgarrada, a moeda perdida e porque este meu filho estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi encontrado”.

Precisamos ser duros de coração e faltos de espiritualidade para não apreciarmos essa experiência de Deus como Pai de misericórdia. Como o amor é incondicional, incondicional é também a misericórdia. Nisso a parábola do filho pródigo é explícita. A novidade não reside no fato de o filho voltar ao pai, depois de haver esbanjado tudo e se encher de remorsos e de saudades. A novidade reside no fato de o pai voltar ao filho: ao vê-lo na curva da estrada, o pai corre-lhe ao encontro, lança-se ao pescoço e cobre-o de beijos. Não lhe cobra nada. Ao contrário, prepara-lhe uma festa.

Com isso Jesus quis deixar claro: Deus é um Pai materno ou uma Mãe paterna que sempre volta para os filhos e filhas, por malévolos que sejam, porque nunca lhe saem do coração.

As Igrejas, diferentes de Jesus, raramente se voltam para as pessoas para que façam uma experiência de misericórdia. Antes, continuam a aterrorizar as consciências com as chamas do inferno. Escolhem o caminho do moralismo, reforçando o medo que mantém cativa a liberdade e torna triste a vida.

Jesus mesmo denuncia essa atitude, presente no filho bom que ficou em casa, à sombra do pai. Ele se nega a voltar para o irmão. Quer a observância da norma e a aplicação do castigo. Esse filho bom é o único a ser criticado por Jesus. Para Jesus não basta sermos bons. Importa sempre voltar para o outro e mostrar amor e misericórdia. 

Pai e filho voltam um ao outro: fecha-se o círculo e irrompe então a irradiação da plena humanidade.

quinta-feira, 22 de março de 2012

Jesus Cristo, Senhor de tudo e de todos - Por Rene Padilha


A autoridade que Jesus Cristo recebeu do Pai ao ressuscitar, segundo sua própria declaração em Mateus 28.18, é uma autoridade universal: “Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra”. Em outras palavras, sua autoridade se estende sobre a totalidade da criação e sobre todos os aspectos da vida humana. Não há nada nem ninguém que esteja fora da órbita da autoridade de Jesus Cristo. Ele tem autoridade não apenas sobre a igreja, mas também sobre o mundo. Não apenas sobre o domingo, mas também sobre o restante da semana. Não apenas sobre o que está relacionado com as práticas religiosas, mas também sobre o que concerne à família e ao trabalho, à arte e à ciência, à economia e à política. 



Isto não significa, porém, que todos reconheçam essa autoridade de Cristo, mas sim que todos deveriam reconhecê-la. Com efeito, o que distingue os cristãos dos não-cristãos é o fato de que aqueles reconhecem e, portanto, confessam, a autoridade universal de Jesus Cristo e vivem à luz desse reconhecimento, enquanto estes não a reconhecem nem a confessam. Como afirma o apóstolo Paulo: “Pois não há distinção entre judeu e grego, uma vez que o mesmo é o Senhor de todos, rico para com todos os que o invocam” (Rm 10.12). Como veremos mais adiante, isto é o que torna necessária a missão da igreja, cuja essência é a proclamação de Jesus Cristo como Senhor. “Isto é, a palavra da fé que pregamos. Se, com a tua boca, confessares Jesus como Senhor e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo (Rm 10.8b-9).

Infelizmente, com muita frequência nós cristãos nos deixamos levar pela dicotomia entre a esfera do sagrado e a esfera do secular. Fazemos separação entre a ética e a religião, entre o público e o privado, entre o mundo e a igreja. Como consequência, estamos marcados pela incoerência entre nossa confissão de Jesus Cristo como Senhor de tudo e de todos, por um lado, e nosso estilo de vida, por outro.


Esta incoerência se faz visível hoje em dia, por exemplo, na maneira como permitimos que a sociedade de consumo defina nosso estilo de vida, impondo-nos valores alheios aos do reino de Deus. A sociedade de consumo transformou o aforismo do filósofo francês Rene Descartes “cogino, ergo sum” (“penso, logo existo”) em “consumo, logo existo”. Como resultado, a maioria das pessoas na sociedade moderna, especialmente no mundo dominado pelo capitalismo, não consome para viver, mas vive para consumir. Pressupõe que, se uma pessoa quer chegar a ser “alguém” entre seus contemporâneos, deve ter capacidade para adquirir os símbolos de “status” que a sociedade de consumo oferece. E, para alcançar este objetivo, muitas pessoas estão dispostas a pagar um alto preço: a saúde, as boas relações conjugais e familiares, a satisfação fruto do exercício de uma vocação escolhida livremente.
Em contraste com o estilo de vida que reflete os valores da sociedade de consumo, o estilo de vida coerente com a confissão de Jesus Cristo como Senhor de tudo e de todos renuncia a estes valores e se compromete com a realização do propósito de Deus para a vida humana exemplificado por seu Filho. É um estilo de vida em que prevalecem os valores do reino de Deus que se resumem em “shalom”: harmonia com Deus, harmonia com o próximo, harmonia com a criação de Deus. E é nesta direção que aponta a missão integral. 

Dia das Mulheres. Que Mulheres? - Por Frei Betto

Antes de celebrar o Dia da Mulher a 8 de março, há que comemorá-lo. Os dois verbos têm diferentes significados, embora frequentemente empregados como sinônimos. Celebrar é promover cerimônia, destacar, tornar célebre, donde celebridade. Comemorar é fazer memória, resgatar o passado, atualizar lembranças.
 
De que mulheres tratamos nesta efeméride? Da empregada doméstica que a família preza como parente para camuflar a sonegação de seus direitos trabalhistas, a falta de carteira assinada, de férias regulares e salário digno?

É também o dia das babás, a quem é negado o direito de estudar, aprimorar-se profissionalmente, e exigido cuidado e afeto aos bebês da família? Quem se lembra das mulheres chefes de família, largadas à deriva por seus maridos, obrigadas à dupla jornada de trabalho para tentar educar os filhos?

As mulheres são a metade da humanidade. A outra metade, filhos de mulheres. E, no entanto, bilhões prosseguem submetidas ao machismo irreverente, proibidas de dirigir carros em alguns países árabes, obrigadas a suportar a poligamia em clãs africanos, forçadas à infibulação (castração feminina) em culturas fundamentalistas, menosprezadas ao nascer na China patriarcal.

Pobre Ocidente que, do alto de sua arrogância, mira tais práticas como se aqui as mulheres tivessem alcançado a emancipação. É verdade, multiplica-se o número de mulheres chefes de Estado ou de Governo, como, atualmente, Dilma Rousseff (Brasil); Cristina Kirchner (Argentina); Laura Chinchilla (Costa Rica); Ângela Merkel (Alemanha); Tarja Halonen (Finlândia); Pratibha Patil (Índia); Dália Grybauskaité (Lituânia); Eveline Widmer-Schlumpf (Suíça); Ellen Johnson Sirleaf (Libéria); e Sheikh Hasina (Bangladesh).

Não olhemos, porém, apenas para o alto. Mirem-se nas mulheres de Atenas, sugere Chico Buarque. “Elas não têm gosto ou vontade. ¤ Nem defeito, nem qualidade; ¤ têm medo apenas. ¤ Não têm sonhos, só têm presságios. ¤ O seu homem, mares, naufrágios... ¤ Lindas sirenas, morenas.”

Há que mirar em volta: mulheres como isca de consumo, adornando carros e bebidas alcoólicas. Mulheres no açougue virtual da chanchada internáutica e nas capas de revistas que cobrem as bancas de jornais, a exibir, como vacas em exposição pecuária, seus atributos físicos anabolizados cirurgicamente.

Milhões de mulheres tentando curar suas frustrações, via medicamentos e terapias, por não corresponderem aos padrões vigentes de beleza. Mulheres recauchutadas, anoréxicas, siliconizadas, em luta perene contra as rugas e as gorduras que o tempo, implacável, imprime a seus corpos. São as gatas borralheiras sempre a fugir da hora em que a velhice bate à porta, tornando-as menos atrativas aos olhos masculinos.

Sim, é preciso fazer memória de mulheres que não foram ricas de imbecilidade nem se expuseram na vitrine eletrônica do voyeurismo televisivo em rede nacional. Refiro-me a Judite, que derrotou o general Holofernes; Maria, que exaltou os pobres, despediu os ricos de mãos vazias e gerou Jesus; Hipácia, filósofa e matemática de Alexandria; Joana d’Arc, queimada viva por desafiar monarcas e cardeais; Teresa de Ávila, que arrancou Deus dos céus e centrou-o no coração humano; Joana Angélica, monja baiana que se opôs ao colonialismo português; Olga Benário, combatente contra o nazifascismo; Zilda Arns, que ensinou dezenas de países a reduzirem a mortalidade infantil; e tantas outras mulheres anônimas que, literalmente, carregam o mundo no ventre e nas costas.

À tradição cristã se deve muito a demonização da mulher. A começar pela interpretação equivocada de que foi Eva a responsável por introduzir o pecado no mundo. Assim como o papa se penitenciou por ter a Igreja Católica condenado Galileu e Darwin, é hora de se aproveitar uma data como 8 de março para reabilitar a mulher na Igreja, permitindo-lhe acesso ao sacerdócio, ao episcopado e ao papado.

Jesus primeiro se revelou como messias a uma mulher – a samaritana do poço de Jacó. Ela pode ser considerada a primeira apóstola. E foi a uma mulher – Madalena - que primeiro Jesus apareceu ao ressuscitar.

E é bom sempre recordar a afirmação do papa Sorriso, João Paulo I: “Deus é mais mãe do que pai”.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

O Reino de Deus e o reino dos homens - Por Winston Spanhol







E lhe disse: "Tudo isto lhe darei, se você se prostrar e me adorar". 

Mateus 4:9 




O objetivo desse estudo é comparar os ensinamentos de Jesus Cristo aos seus discípulos com os ensinamentos atuais que movimentos pentecostais e neopentecostais transmitem para a sociedade por meio da mídia, transformando seus ensinamentos no senso comum de cristianismo. No entanto, é sabido pelos leitores da Bíblia que os ensinamentos atuais desses movimentos não estão em comum acordo com os ensinamentos de Jesus. 

Refletindo sobre a tentação de Jesus, no instante em que o diabo apresenta-lhe todos os reinos e riquezas desse mundo e a sua escolha de adorar somente ao Senhor Deus percebe-se que a proposta de Reino que o messias trazia era de um reinado em que não se dava importância à conquista das riquezas, e sim, a suprir as necessidades alheias. Para ratificar a sua escolha Jesus posteriormente disse: “Ninguém poderá servir a dois Senhores; ou vocês servem a Deus ou ao Dinheiro” (Mt. 6.24) 

Apesar de Jesus ter agido de modo radical na sua missão, parece que os movimentos surgidos nos últimos anos, à exemplo da Igreja Institucionalizada a partir do século IV, não entenderam a proposta do Reino de Deus. Antes, corrompem-se em troca de moeda e propagam por onde passam que o Reino de Deus é um reino de riquezas e os que entrarem para esse reino, desde já, contribuindo financeiramente, alcançarão felicidade e prosperidade financeira em vida nessa terra. O que bem sabemos que não é verdade, pois o capital faz com que pobres tornem-se mais pobres e ricos tornem-se mais ricos.


A crítica que tenho a fazer é a favor da preservação de uma mensagem de Justiça e Paz, Igualdade e Fraternidade, Saúde e Contentamento, Ausência de Necessidades e Liberdade para ser Feliz, que o mestre Jesus nos trouxe. Vender-se ao Grande Capital dominante apenas para satisfazer um desejo egoísta de ajuntar mais dinheiro não pode ser considerado como mensagem de Jesus. Essa mensagem capitalista que por meio da mídia é apresentada pode até ser do Malafaia, do Valdomiro, do RR ou do Macedo, menos a mensagem de Jesus.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

13 Razões Para Defender uma Política para Usuários de Crack, Álcool e outras Drogas sem EXCLUSÃO




1. Defendemos o Sistema Único de Saúde (SUS) – um dos maiores patrimônios nacionais, construído coletivamente para cuidar da saúde da população brasileira. Defendemos a aprovação da Emenda Constitucional nº 29 e a possibilidade de garantir e ampliar financiamento para consolidar suas ações, inclusive para a política de crack, álcool e outras drogas, assegurando seu caráter eminentemente público, em oposição a todas as formas de privatização da saúde.

2. Defender os princípios e diretrizes do SUS, principalmente o princípio da PARTICIPAÇÃO, que garante o direito do usuário de ser esclarecido sobre a sua saúde, de intervir em seu próprio tratamento e de ser considerado em suas necessidades, em função de sua subjetividade, crenças, valores, contexto e preferências.

3. Defender a continuidade e o avanço do processo de Reforma Psiquiátrica Antimanicomial em curso no Brasil – regulamentada na Lei nº 10.216/2001, que criou os serviços de atenção psicossocial de caráter substitutivo ao modelo asilar – para o cuidado de pessoas com sofrimento mental e problemas no uso de álcool e outras drogas.

4. Considerar que o Estado é laico e democrático e, por isso, não deverá, a pretexto de tratamento, impor crença religiosa a nenhum de seus cidadãos, mesmo quando estes fizerem uso problemático de álcool ou outras drogas. Da mesma forma, compete ao Estado respeitar e promover a cidadania destes usuários, recusando todas as propostas que violem seus direitos, como a internação compulsória e restrição da liberdade como método de tratamento.

5. Superar o isolamento em instituições totais, tais como hospitais psiquiátricos ou comunidades terapêuticas – que geram mais dor, sofrimento, violação dos direitos humanos –, por uma rede de serviços substitutivos como Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), Leitos em Hospitais Gerais, Casas de Acolhimento Transitório, Consultórios de Rua e outras invenções que se fizerem necessárias para garantir o cuidado em liberdade.

6. Reconhecer que as cenas públicas de uso de drogas, as chamadas cracolândias, que tanto incomodam a população em geral, são também efeitos da negligência pública e da hipocrisia social. A transformação desta situação impõe a criação de políticas públicas que incluam os usuários e a população local, através da implantação de projetos de moradia social, geração de renda, qualificação do espaço urbano, educação, lazer, esporte, cultura, etc.

7. O cuidado em liberdade, dentro do SUS, dos usuários de crack, álcool e outras drogas já é realidade em nosso país. São Bernardo do Campo (SP) e Recife (PE) são exemplos do êxito desta política, cujos investimentos exclusivamente voltados para a rede pública propiciaram a invenção de uma rede diversificada de serviços substitutivos, que asseguram cidadania. A sustentação radical desta política permite a ambos municípios prescindirem da inclusão de comunidades terapêuticas e de hospitais psiquiátricos como lócus de tratamento.

8. Quem usa drogas é vizinho, pai, mãe, filho, filha, irmão, irmã, amigo, amiga, parente de alguém, meu ou seu. Portanto, é preciso superar a ideia de que o usuário de drogas é perigoso, perdido, irrecuperável ou um monstro. Tais idéias provocam uma urgência de respostas mágicas, levam a sociedade a demandar medidas políticas sem a prévia reflexão necessária, justificando e legitimando a violência contra estes novos párias sociais.

9. A humanidade sempre usou drogas em cerimônias, festas, ritos, passagens e em contextos limitados. Nossa sociedade precisa se indagar sobre o significado do consumo que o mundo contemporâneo experimenta e tanto valoriza, buscando entender o uso abusivo de drogas nos dias de hoje e as respostas que tem dado ao mesmo.

10. As sociedades convivem com muitas drogas, lícitas ou ilícitas. As pessoas que usam drogas de forma prejudicial precisam de ajuda, apoio, respeito e de redes públicas de atenção que garantam sua cidadania e liberdade. Para tal, as ações de redução de danos, que responsabilizam o cidadão por suas escolhas e estabelecem laços de solidariedade, devem ser orientadoras do cuidado, sempre articuladas com as demais políticas públicas.

11. A leitura do fenômeno do uso abusivo de drogas, em particular, do consumo de crack, como uma epidemia, além de grave equívoco de interpretação dos dados epidemiológicos que não demonstram isto, provoca uma reação social que instaura o medo e autoriza a violência e a arbitrariedade, levando à justificação de medidas autoritárias, coercitivas e higienistas.

12. Comunidades terapêuticas não são dispositivos de saúde pública. São a versão moderna dos antigos manicômios, seja pela função social a elas endereçada, quanto pelas condições de uma suposta assistência ofertada. Elas reintroduzem o isolamento das instituições totais, propondo a internação e permanência involuntárias, centram suas ações na temática religiosa, frequentemente desrespeitando tanto a liberdade de crença quanto o direito de ir e vir dos cidadãos. Portanto, rompem com a estrutura de rede que vem sendo construída pelo SUS, não havendo qualquer justificativa técnica para seu financiamento público.

13. Os direitos humanos, os princípios da saúde pública e as deliberações das Conferências Nacionais de Saúde e de Saúde Mental devem orientar a aplicação e os investimentos públicos na criação das redes e serviços de atenção a usuários de crack, álcool e outras drogas. Qualquer política que proponha agregar outros serviços com orientação distinta da adotada pela Reforma Psiquiátrica e pelo SUS, estará tentando conciliar o inconciliável e deste modo, camuflando diferenças em nome de outros motivos ou interesses e produzindo um claro desrespeito à política e à sociedade.


http://www2.pol.org.br/boletins/2011/boletimdocfp_20111004.html


segunda-feira, 12 de setembro de 2011

JESUS ERA RUÍM DE MARKETING! - POR CAIO FABIO


Alguém me escreveu dizendo que não entende por que Jesus agiu como agiu, ao invés de fazer como César ou Alexandre, o Grande.

A ele e a tantos quantos pensam a mesma coisa, digo o seguinte:Jesus veio para salvar o mundo, e, contudo, não fez nada igual aos que se oferecem como salvadores dos homens.Já se disse demais [embora valha a pena repetir] que Ele não escreveu sequer um livro, não erigiu um pilar, por mais fajuto que fosse; não mudou para Roma e nem para Atenas ou mesmo para Jerusalém; não aceitou a oferta dos gregos de ir viver entre eles; não buscou impressionar os filósofos gregos ou os senadores romanos; e nem tampouco sistematizou um ensino para ser decorado ou aprendido; e, para completar a serie de “insensatezes”, ainda escolheu andar com gente que não formava opinião, não era conhecida, não tinha berço, e não agia no meio político ou religioso. 

Ele fez como o Pai: Do que estava sem forma e vazio Ele iniciou o reino!Além disso, Ele não gerou filhos e nem deixou herdeiros carnais de nada. Não criou amuletos com pedaços de suas roupas ou utensílios de uso pessoal [toda essa história de Graal e relíquias santas é paganismo comercial brabo feito em nome de Jesus], não “marcou lugares santos” e nem estabeleceu “peregrinações sagradas”, como ir à Jerusalém, à Cafarnaum, e muito menos a qualquer outro lugar santo ou “Meca”.Também não inventou “uma parte profunda” de Seu ensino apenas reservado aos Entendidos e Autoridades. Não venerou nada. Não se vinculou à coisa alguma, nem mesmo ao Templo de Jerusalém, ao qual derrubou com palavras proféticas. Chocante também é o fato Dele não se poupar em nada. Cansado, então cansado. Com sede, então com sede. Ameaçado, então cauteloso. Descrido, então muda de lugar. Amado, mostra amor, mas não fica seqüestrado pelo amor de ninguém. Desperdiça oportunidades de ouro. Joga fora o que ninguém jogava. 

Insurge-se contra aquilo que ninguém se levantava em oposição. Provoca a morte com vida até ressuscitar. Ressuscitar. Sim! Mas para quê? Se as testemunhas não eram criveis. Até óvnis têm testemunhos mais criveis do ponto de vista do que se julga um testemunho respeitável. E além de tudo Ele só aparece para quem crê, e não faz nenhuma aparição ante seus inimigos, no Sinédrio de Jerusalém, por exemplo. 

Até para ressuscitar Ele trabalha contra Ele mesmo, do ponto de vista de “estratégia de ressurreição”. Sim! Jesus não fez nada concreto. Tudo Nele era abstrato, até quando era concreto. 

Tudo tinha que ser apreendido com o coração, e não apenas aprendido com a mente. Um dia depois do milagre da multiplicação de pães e peixes, todo o resultado do milagre já havia sido digerido e evacuado. Ninguém foi por Ele instruído a guardar amostra dos pães e peixes, nem tampouco pediu Ele que se guardasse um tonel de vinho de Cana.Jesus era do tipo que jamais chegaria à Betânia e diria: “Foi aqui que ressuscitei Lázaro!”Sim! Ele não tem histórias de Si mesmo para contar. O presente é a História para Jesus. Suas histórias não são passadas, são todas presentes. 

Suas histórias são as Suas palavras de vida e poder enquanto...Ora, eu poderia ficar escrevendo aqui para sempre sobre o assunto [aliás, tenho três livros que lidam com essas questões de modo amplo e extenso]; no entanto, o que me interessa é apenas afirmar que assim como Jesus tratou a vida e a História, do mesmo modo Ele espera que nós o façamos, até quando estivermos exaltando o Seu nome ou pregando a Sua Palavra; e, sobretudo, no vivendo da vida.Ou quem nos fez pensar que Jesus era assim apenas porque Ele tinha que ser assim? — Mas que nós, que não somos Ele [e que temos a tarefa de propagandeá-LO na terra], temos permissão para tratarmos Jesus em relação ao mundo de um modo diferente do que Ele tratou a Si mesmo? Sim! Quem nos convenceu de tal loucura? O modo de vivermos e pregarmos o nome de Jesus no mundo é exatamente o mesmo com o qual Ele tratou a Si mesmo na experiência humana de Seu existir entre nós.

“Meu reino não é deste mundo!”
 Afinal, quem é César? Quem é Alexandre?
 Você deve a vida a qualquer um dos dois? 
Em que César ou Alexandre ajudam a sua vida hoje?

Assim, pergunto:Você aceita desistir do que erro no qual foi criado na religião e passar a viver com os modos e motivações de Jesus?

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Mais Cristo, menos Cristianismo - Por Ed Rene Kivitz

Toda religião está estruturada em dogmas, rituais e códigos morais. O Cristianismo também. Mas não são os dogmas, os rituais e os códigos morais que definem a experiência pessoal com Cristo. O apóstolo Paulo esclareceu que os seguidores de Jesus não podem ser reduzidos a observadores de rituais e padrões morais: Portanto, não permitam que ninguém os julgue pelo que vocês comem ou bebem, ou com relação a alguma festividade religiosa ou à celebração das luas novas ou dos dias de sábado. Estas coisas são sombras do que haveria de vir; a realidade, porém, encontra-se em Cristo […] Já que vocês morreram com Cristo para os princípios elementares deste mundo, por que, como se ainda pertencessem a ele, vocês se submetem a regras: “Não manuseie!”, “Não prove!”, “Não toque!”? Todas essas coisas estão destinadas a perecer pelo uso, pois se baseiam em mandamentos e ensinos humanos. Essas regras têm, de fato, aparência de sabedoria, com sua pretensa religiosidade, falsa humildade e severidade com o corpo, mas não têm valor algum para refrear os impulsos da carne [Colossenses 2.16,17,20-23].


A experiência mística do Cristo crucificado e ressurreto, comunhão com Ele, viver nEle, estar nEle, andar nEle [1Coríntios 1.9; Colossenses 1.2, 26,27; 2.6,7; 3.2], enfim, a devoção e a adoração a Cristo importam mais que a defesa do Cristianismo, isto é, dos dogmas, rituais e códigos morais considerados cristãos.


A imitação de Cristo é a essência do seguimento de Jesus, e importa mais que a adesão ao Cristianismo. Consta que Mahatma Gandhi teria afirmado a respeito dos protestantes ingleses: “Aceito seu Cristo, mas não aceito seu Cristianismo”. Eis aí uma constatação interessante: não poucas vezes a maneira como pretendemos servir a Cristo implica trair o espírito de Cristo. Talvez tenha sido isso o que Friedrich Nietzsche quis dizer ao afirmar que “se mais remidos se parecessem os remidos, mais fácil me seria crer no Redentor”.
O apóstolo Paulo estava ciente desse perigo e, por isso, recomendou aos cristãos: Vocês já se despiram do velho homem com suas práticas e se revestiram do novo, o qual está sendo renovado em conhecimento, à imagem do seu Criador. Nessa nova vida já não há diferença entre grego e judeu, circunciso e incircunciso, bárbaro e cita escravo e livre, mas Cristo é tudo e está em todos. Portanto, como povo escolhido de Deus, santo e amado, revistam-se de profunda compaixão, bondade, humildade, mansidão e paciência. Suportem-se uns aos outros e perdoem as queixas que tiverem uns contra os outros. Perdoem como o Senhor lhes perdoou. Acima de tudo, porém, revistam-se do amor, que é o elo perfeito. Que a paz de Cristo seja o juiz em seu coração, visto que vocês foram chamados para viver em paz, como membros de um só corpo. E sejam agradecidos. Habite ricamente em vocês a palavra de Cristo; ensinem e aconselhem-se uns aos outros com toda a sabedoria, e cantem salmos, hinos e cânticos espirituais com gratidão a Deus em seu coração. Tudo o que fizerem, seja em palavra ou em ação, façam-no em nome do Senhor Jesus, dando por meio dele graças a Deus Pai [Colossenses 3.5-17].


Há muitas pessoas que se declaram adeptas da religião Cristianismo, mas não se comprometem a viver como Jesus Cristo viveu e ensinou. Não estão ocupadas em guardar (obedecer) todas as coisas que ele ordenou [Mateus 20.18-20], nem tampouco em andar como Ele andou [1João 2.6]. A respeito dessas pessoas, o próprio Jesus declarou: Nem todo aquele que me diz: ‘Senhor, Senhor’, entrará no Reino dos céus, mas apenas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: ‘Senhor, Senhor, não profetizamos em teu nome? Em teu nome não expulsamos demônios e não realizamos muitos milagres?’ Então eu lhes direi claramente: Nunca os conheci. Afastem-se de mim vocês, que praticam o mal! [Mateus 7.21-23].


Cristo é maior que o Cristianismo. Por essa razão, a adoração a Cristo é mais importante que a defesa do Cristianismo, e a imitação de Cristo é mais importante que a adesão ao Cristianismo. Ser como Cristo e fazer mais por Cristo, eis as legítimas aspirações de todo aquele que se comprometeu com o caminho de Cristo.